O sol nasceu sobre Lamentosa, mas não trouxe luz — apenas revelou o que a escuridão já sabia. Nas últimas 24 horas, mais de 312 milhões de moedas de ouro mudaram de mãos neste mundo amaldiçoado, onde vampiros e lobisomens travam uma guerra sem fim. Mas o ouro é apenas o verniz. O verdadeiro espetáculo aconteceu no chat, onde a língua afiada de alguns cortou mais fundo que qualquer lâmina forjada em sangue.
E no centro deste teatro de crueldade, um nome ecoou como uma maldição: Nuvem.
O Profeta e o Asno
“Aconteceu exatamente o que eu disse há 2 meses atrás”, digitou Nisei, lobisomem de poder 1106, com a satisfação de quem vê suas visões se concretizarem. “O Tuga ia acabar sozinho no clã ou ia ser expulso.”
A profecia se cumpriu. E Nisei, em sua arrogância autoconsciente, deixou claro que só não ganha na loteria porque não aposta. Mas a verdadeira carnificina não estava nos campos de batalha onde Ayuki arrancou 16 milhões de ouro de Abadom em um único golpe brutal — o maior saque das últimas 24 horas. Não. A verdadeira violência aconteceu nas palavras.

“Queria entender por que o Nuvem se incomoda tanto com a Llyn”, questionou Lesmonauta, a lesma espacial que observa tudo de sua órbita peculiar. E ali começou uma dissecação psicológica que nem os mestres mais antigos de Lamentosa conseguiriam realizar com tanta precisão.
A resposta veio em camadas. Primeiro, a superficial: “-Nicky-” sugeriu que era “coisa de mulheres, não dá pra entender”, com o cinismo de quem já viu esse teatro se repetir inúmeras vezes. Mas Lesmonauta foi mais fundo: “Ele deve sentir muita inveja dela.”
Inveja. A palavra pairou no ar digital como um miasma tóxico.
“Só falta caráter pra ele ser legal”, completou Lesmonauta, arrancando risadas nervosas. E Vladislav Drakovich, sempre pontual em sua crueldade, emendou: “Acho que caráter é UMA das coisas que falta. Falta o CARA TER um monte de coisa.”
O Veneno que Não Pegou
Mas o que realmente expôs a mediocridade de Nuvem foi sua própria ação. Ali, em tempo real, enquanto o chat dissecava sua personalidade como um cadáver em uma mesa de autópsia, ele tentou envenenar Llyn.
“[LG] Nuvem tentou lhe envenenar, mas você já estava envenenado e nada aconteceu.”
A mensagem surgiu no feed como uma piada cósmica. Llyn, tutor de poder 617, nem precisou se defender — o próprio sistema zombou da incompetência de Nuvem. “Jenio”, ela digitou, usando a ironia como uma lâmina mais afiada que qualquer katana demon.
“ALÉM DE ANALFABETO NÃO SABE FAZER CONTA DE HORAS”, gritou Vladislav em letras maiúsculas, expondo outra camada da tragédia. Aparentemente, Nuvem não apenas falhava em suas vinganças digitais, mas também não conseguia calcular os cooldowns do próprio jogo. Era como assistir alguém tropeçar repetidamente na mesma pedra, mas insistindo que a pedra é que estava no lugar errado.
“Anal fabeto”, completou Vladislav, reduzindo Nuvem a um substantivo composto que seria cômico se não fosse tão preciso.
O Ban que Explicava Tudo
A história ficou ainda mais sombria quando Llyn revelou o histórico: “Motivo: Constantes e graves ofensas. Essa conta não será desbloqueada, e se continuar, as outras serão banidas em definitivo também, incluindo ‘Nuvem’.”
Era a conta Eduardo. Banida permanentemente. E ali estava a raiz de toda aquela obsessão patológica — Nuvem não conseguia aceitar que suas ações tinham consequências. Que em Lamentosa, diferente do mundo real onde muitos se escondem atrás de telas, existe uma ordem. Mestres que observam. Regras que, quando quebradas repetidamente, resultam em aniquilação digital.
“Bug e Ban começam com a letra B”, explicou Llyn com uma paciência quase maternal. “Compreensível a confusão dele.”
A turba digital rugiu em aprovação. Era entretenimento puro — assistir alguém se autodestruir enquanto insistia que estava vencendo. Vladislav compartilhou que Nuvem costumava pegar a hora do servidor e fazer a conta de 3 horas “nos dedos” para saber quando os bosses apareceriam. Três horas. Nos dedos.
“-Nicky-” não perdeu a oportunidade: “Coloca no seu currículo Vlad: ‘Bom de dedo’.”
O chat explodiu. Porque em Lamentosa, onde 132 milhões de ouro foram roubados em PvP nas últimas 24 horas, onde criaturas entregaram outros 179 milhões aos caçadores, onde a guerra é a única constante — a verdadeira humilhação não vem da derrota. Vem de ser exposto como medíocre diante de seus pares.
O Ouro Corre Como Sangue
Enquanto Nuvem se afogava em sua própria insignificância, o mundo real de Lamentosa continuava girando. Ayuki, com seus 1116 de poder, havia acabado de demonstrar o que significa verdadeira dominação ao arrancar 16.297.653 de ouro de Abadom — o maior saque individual do dia.
Não foi sorte. Foi execução brutal. Foi o tipo de combate que faz outros jogadores pausarem suas atividades e simplesmente observarem, sabendo que testemunharam algo que vão contar por semanas.
“Vai sharingan”, digitou Kovacs, e Sharingan respondeu com um simples “Vai tomando”. Porque em Lamentosa, as palavras são economizadas. A violência fala mais alto.
Os clãs se movimentavam como organismos vivos. Fiannas massacrou Shangrilá Frontier com 1414 pontos contra zero — uma humilhação tão completa que nem merecia comentário. “Da até pena de bater nesse clã falido”, provocou Nisei, o profeta que não perdia oportunidade de esfregar sal em feridas abertas.
A Guerra que Nunca Dorme
Nos campos de batalha massivos, onde até 40 jogadores podem colidir simultaneamente, histórias épicas se escreviam em sangue digital. Argon aniquilou QUATRO em uma demonstração de dominação técnica — Mirror Attack copiando força, Necromancy aumentando dano base em 30%, bloqueios sucessivos que transformaram o oponente em um saco de pancadas impotente.
“Argon bloqueou o ataque de QUATRO” repetiu-se quatro vezes consecutivas nos logs de batalha. Quatro vezes. Não foi coincidência. Foi maestria.
Samsung tentou o mesmo contra QUATRO e descobriu que até mesmo a paralisia mútua tem seus vencedores. Dezesseis rodadas de absoluta imobilidade, ambos paralisados, até que QUATRO desferiu o golpe final: Life Drain drenando 2436 pontos, seguido por Sudden Death arrancando mais 2783. Samsung caiu sem glória, um lembrete de que em Lamentosa, a preparação importa tanto quanto o poder bruto.
O Legado da Mediocridade
Mas voltemos a Nuvem. Porque sua história não é apenas sobre um jogador fracassado tentando envenenar alguém que já estava envenenada. É sobre algo maior. É sobre o tipo de pessoa que Lamentosa expõe sem piedade.
“Só falta carater p ele ser legal”, resumiu Lesmonauta, e a frase ecoou porque era verdade cristalina. Em um jogo onde você pode ser literalmente qualquer coisa — vampiro imortal, lobisomem primordial, mestre das sombras — Nuvem escolheu ser pequeno. Mesquinho. Obcecado com uma rival que nem sequer o considerava uma ameaça real.
“É o cão que ladra mas não morde”, definiu Selene Corvinus. “E quando morde, morde fofo.”
A profecia de Nisei se cumpriu não porque ele tinha poderes místicos, mas porque padrões de comportamento são previsíveis. Pessoas como Nuvem sempre acabam sozinhas. Sempre são expulsas. Não por serem fracas em combate, mas por serem tóxicas em essência.
O Verdadeiro Horror
Lamentosa não é apenas um jogo sobre vampiros e lobisomens. É um espelho. Um espelho que reflete quem você realmente é quando as máscaras sociais caem. Quando não há consequências físicas, apenas digitais. Quando você pode ser anônimo, mas suas ações são permanentemente registradas.
Nuvem tentou ser relevante através do ódio. Falhou. Llyn continuou sendo uma tutora respeitada, ajudando novos jogadores enquanto Nuvem desperdiçava veneno em alvos já envenenados. Nisei fez suas profecias se realizarem simplesmente observando padrões óbvios. E Ayuki arrancou mais ouro em um único combate do que a maioria dos jogadores vê em uma semana.
O chat de Lamentosa nas últimas 24 horas foi um microcosmo da condição humana. Tribos se formando. Hierarquias se estabelecendo. Fracos sendo expostos. Fortes sendo celebrados. E no meio de tudo, uma lesma espacial fazendo as perguntas que ninguém mais tinha coragem de fazer.
“Será que já se viram pessoalmente, e ela era tudo que ele queria ser?”, especulou Jesus Nazarento — sim, há um Jesus Nazarento em Lamentosa, porque claro que há. “Inveja… eu sei bem como é isso.”
O Amanhã Que Já Está Aqui
Enquanto você lê isto, Lamentosa continua. Novos saques acontecem. Novos venenos são desperdiçados. Novas profecias se cumprem. O ouro continua correndo como sangue — 312 milhões de moedas nas últimas 24 horas, cada uma representando uma pequena vitória ou derrota, um momento de glória ou humilhação.
“Amanhã à mesma hora”, prometeu infinite Demise após uma GvG. E será. Porque em Lamentosa, o ciclo nunca para. Os mestres observam. As facções guerreiam. Os fracos são devorados. Os fortes se tornam lendas.
E Nuvem? Nuvem continuará tentando envenenar pessoas já envenenadas, calculando horas nos dedos, acumulando bans como troféus da própria mediocridade.
Porque no final, Lamentosa não pune a fraqueza em combate. Pune a fraqueza de caráter. E essa é uma sentença perpétua.
A pergunta que fica não é se você tem poder suficiente para sobreviver em Lamentosa. É se você tem força suficiente para olhar no espelho que este mundo oferece e aceitar o que vê olhando de volta.
Nisei tinha razão. A profecia se cumpriu. Mas não foi sobre Tuga ou clãs falidos. Foi sobre todos nós, observando enquanto alguém escolhia ser exatamente quem não deveria ser.
E em Lamentosa, essa escolha é permanente.
“Só não ganho na loteria porque não aposto”, disse o profeta.
Mas alguns já apostaram tudo — e perderam antes mesmo do jogo começar.