Quando foi a última vez que você ficou entediado jogando D&D porque alguém estava demorando 15 minutos para calcular um dano de bola de fogo? Ou pior, quando você mesmo percebeu que estava passando mais tempo somando modificadores do que realmente interpretando seu personagem? A matemática em RPGs sempre foi um tema polêmico entre nós jogadores, e hoje vamos mergulhar profundamente nessa questão que está afastando muitos de nós de sistemas como D&D 5e.

A verdade incômoda é que, enquanto nos vendiam a fantasia de ser heróis épicos em mundos mágicos, muitos sistemas de RPG acabaram se transformando em aulas de matemática disfarçadas. E não estou falando só do bom e velho D&D - o problema parece estar se espalhando para novos lançamentos como Daggerheart.

A Matemática que Mata a Diversão

Não é segredo para ninguém: cálculos excessivos interrompem o fluxo da narrativa. O D&D 5e, que já foi considerado uma das melhores iterações do sistema (antes do fiasco da OGL), funciona relativamente bem nos níveis 1 a 7. Depois disso, as coisas começam a ficar complicadas, especialmente para jogadores novatos.

Imaginem a cena: o grupo em um momento épico de combate contra o dragão vermelho, tensão no ar, e de repente alguém interrompe tudo com um “espera aí, tenho que calcular meu ataque… então, são 1d20 + 5 de proficiência + 3 de modificador de força + 2 do item mágico + 1d4 da bênção…” e por aí vai. Cinco minutos depois, quando finalmente consegue dar o resultado, todo mundo já esqueceu qual era a situação dramática que estava acontecendo.

Este não é um problema exclusivo do D&D 5e. O próprio Star Wars da West End Games mencionado na discussão sofre do mesmo problema. Rolar 7 a 11d6 para um único ataque não é apenas tedioso - é um verdadeiro assassino de narrativas.

Comparando Sistemas e suas “Mathiness”

Uma análise interessante de diferentes sistemas mostra como eles se comparam em termos de complexidade matemática:

  • Daggerheart: Considerado o mais matemático de todos, com seu sistema de 2d12 e mecânicas complexas de esperança e medo. A taxa de sucesso ultrapassa 80%, mas a que custo? Cada ação não é apenas passar ou falhar, mas um espectro de “você passou, mas algo ruim aconteceu” ou “você falhou, mas algo bom aconteceu”. Depois de 4 horas de jogo, isso se torna mentalmente esgotante.

  • D&D 5e: Ocupando o meio do caminho, oferece cerca de 60% de chance de sucesso. O problema é que, à medida que você adiciona talentos e habilidades de classe, as coisas ficam mais complicadas.

  • Old School Essentials/Shadow Dark: Matemática mais simples, com cerca de 40% de taxa de sucesso. Isso cria uma sensação de perigo real e aventura de sobrevivência - o que pode afastar alguns jogadores, mas atrai aqueles que buscam desafios genuínos.

  • EZD6: Provavelmente o mais acessível matematicamente. A maioria das rolagens precisa apenas de 3+ em um d6 (aproximadamente 66% de chance de sucesso). Aumentar a dificuldade de 3 para 4 reduz drasticamente as chances de sucesso, criando uma tensão narrativa sem complicações numéricas.

Comparação entre sistemas de RPG

Voltando às Raízes do RPG

Muitos de nós começaram com D&D, mas talvez seja hora de reconhecer que nem sempre “maior” significa “melhor”. Talvez o verdadeiro encanto dos RPGs esteja se perdendo sob camadas de regras e modificadores.

Jogos como EZD6 brilham em sessões curtas, convenções e one-shots. São rápidos, empolgantes e cada rolagem importa. Não há modificadores complexos para atrapalhar o fluxo da história. A desvantagem? A progressão de personagem ainda é limitada no livro principal.

Para campanhas mais longas que mostram crescimento e táticas de sobrevivência, sistemas OSR como Old School Essentials, Shadow Dark e BX D&D mantêm a matemática simples, o combate mortal e a narrativa fluida. É um retorno à essência do que faz os RPGs especiais.

O Futuro do D&D e Nossa Busca por Algo Melhor

Ao observar toda essa situação, não posso deixar de pensar no meu amado Lamentosa - um MMO de navegador sobre vampiros e lobisomens que muitos de vocês provavelmente nunca ouviram falar. O que faz Lamentosa especial não são gráficos elaborados ou sistemas complexos, mas a simplicidade que permite conexões reais entre jogadores.

Talvez seja isso que estamos perdendo em RPGs modernos como D&D. Estamos tão preocupados em construir sistemas matematicamente equilibrados que esquecemos por que começamos a jogar em primeiro lugar: para contar histórias juntos, enfrentar desafios como um grupo e criar memórias que durarão muito mais que qualquer livro de regras.

A questão não é se D&D 5e ou Daggerheart são bons sistemas - eles têm seus méritos. A questão é se a complexidade matemática que eles impõem vale o custo narrativo. Para muitos de nós, a resposta está se tornando cada vez mais clara: não.

Se você quer aventuras rápidas, significativas e divertidas onde os dados e a história conduzem o jogo, talvez seja hora de explorar os sistemas OSR ou regras leves como EZD6. Volte ao que realmente importa: aventura, perigo e imaginação. Afinal, nenhum de nós começou a jogar RPG para fazer contas - começamos para ser heróis.

E você, o que acha? A matemática em D&D está matando sua diversão ou é um preço pequeno a se pagar pela profundidade do sistema?

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