O tão esperado modo Miliástraga Wonderland finalmente chegou ao Genshin Impact, e após algumas horas explorando cada cantinho dessa nova funcionalidade, posso dizer que há muito o que discutir. Entre promessas de personalização e minigames criados pela comunidade, será que o modo entrega tudo o que esperávamos? Spoiler: a resposta é mais complicada do que você imagina.
Após baixar impressionantes 11GB de atualização, mergulhei de cabeça neste novo mundo criado para oferecer aos viajeros uma experiência diferente do que estamos acostumados em Teyvat. Vamos destrinchar cada aspecto deste modo e descobrir se realmente vale a pena investir seu tempo (e possivelmente seu dinheiro) nesta nova adição ao universo de Genshin.
A Primeira Impressão: Personalização que Decepciona
Logo ao entrar no Miliástraga Wonderland, somos apresentados a um sistema de criação de personagem que, infelizmente, parece ter saído diretamente de 2010. A personalização disponível é extremamente básica, oferecendo opções limitadas de customização que não chegam nem perto do que esperamos de jogos modernos.
A interface de customização apresenta algumas opções de vestuário, tipos de cabelo, cores e acessórios básicos, mas nada que realmente impressione. O sistema permite escolher entre diferentes skins, sendo que as opções mais interessantes são as “botargas” (trajes completos temáticos), enquanto as roupas individuais acabam fazendo seu personagem parecer apenas mais um NPC comum.
Um ponto positivo é que você pode salvar diferentes configurações de aparência e até mesmo compartilhar seu visual através de um código. Isso significa que se você encontrar um outfit interessante de outro jogador, pode simplesmente copiar o código e importar para seu personagem. É uma funcionalidade bacana, mas não compensa as limitações do sistema de customização em si.
O Sistema de Monetização: Prepare o Bolso
Aqui as coisas começam a ficar interessantes – e por interessantes, quero dizer caras. O Miliástraga Wonderland introduz uma nova moeda chamada Crononúcleo, e como era de se esperar, ela pode ser comprada com dinheiro real.
Os preços são bem salgados: 20 Crononúcleos custam o mesmo que 60, o que já indica que o sistema não é exatamente pensado para beneficiar quem investe menos. As skins premium custam cerca de 1.600 Crononúcleos, o que se traduz em valores consideráveis de dinheiro real. Existem também aspectos de olhos e outros itens cosméticos que seguem a mesma linha de precificação.
Gacha Dentro do Gacha: O Sistema de Odas
Como se o gacha principal de Genshin não fosse suficiente, o Miliástraga Wonderland traz seu próprio sistema de gacha chamado “Odas”. Para conseguir puxar neste gacha, você precisa de Selos Estelares ou Cristais de Réplica.
Um detalhe curioso e um tanto problemático: se seu personagem é feminino, você só pode puxar no banner feminino, e vice-versa para personagens masculinos. Isso divide ainda mais a base de recompensas disponíveis.
A boa notícia é que existe uma forma de conseguir Cristais de Réplica através de missões gratuitas. O sistema de missões diárias e semanais oferece esses cristais, permitindo que jogadores free-to-play também possam participar do gacha, ainda que de forma mais limitada. No entanto, muitas dessas recompensas parecem ser de obtenção única, não se renovando periodicamente, o que limita bastante o potencial de farm gratuito.
O Passe de Batalha: O Investimento que Faz Sentido
Se você vai gastar dinheiro em algum lugar no Miliástraga Wonderland, o passe de batalha chamado “Crónicas dos Reinos” parece ser a melhor opção. Por aproximadamente 540 reais (cerca de 100 dólares), você desbloqueia uma quantidade considerável de recompensas, incluindo 3.200 Cristais de Réplica e várias skins exclusivas.
O passe oferece uma trilha gratuita e uma premium, similar ao que estamos acostumados em outros jogos. A duração é de aproximadamente 40 dias, e as recompensas incluem não apenas moedas para o gacha, mas também diversos itens cosméticos.
Existe ainda uma promoção de lançamento onde você pode comprar os dois níveis do passe (o básico e o premium) pelo preço de um, o que representa um desconto significativo para quem pretende investir no modo. Mas vale ressaltar: isso só faz sentido se você realmente pretende jogar bastante o Miliástraga Wonderland.
Os Modos de Juego: Criatividade Sem Execução
Aqui chegamos ao que deveria ser o coração do Miliástraga Wonderland: os minigames criados pela comunidade. A proposta é interessante – um espaço sandbox onde jogadores podem criar seus próprios modos de jogo e compartilhar com outros. Na prática, no entanto, a experiência deixa muito a desejar.
Batalha da Ponte
Este foi um dos modos mais populares no momento dos testes. O objetivo é atravessar uma ponte enquanto enfrenta outros jogadores, empurrando-os para fora enquanto tenta chegar ao outro lado primeiro. A mecânica é simples e funcional, sendo um dos poucos modos que realmente entrega diversão. A partida é rápida, intuitiva, e você consegue entender o que precisa fazer sem grandes explicações.
Futebol Caótico
O modo de futebol tenta trazer uma experiência diferente, mas acaba confuso. As mecânicas incluem habilidades para congelar oponentes e lançá-los pelos ares, mas durante as partidas fica difícil acompanhar quem tem a posse da bola e o que exatamente está acontecendo. As partidas terminam rapidamente, mas sem aquela sensação de que você realmente teve controle sobre o resultado.
Battle of Shimulanca
Este modo claramente se inspira em Plants vs Zombies, com mecânicas de tower defense onde você planta “defensores” para impedir o avanço inimigo. O problema é que as instruções são confusas, muitos elementos estão apenas em chinês, e a maioria dos jogadores simplesmente não entende o que precisa fazer. É uma boa ideia mal executada.
Duelo na Ilha
Outro modo que sofre com instruções apenas em chinês. A premissa parece interessante, mas quando você não consegue entender os objetivos ou as mecânicas, a experiência se torna frustrante em vez de divertida.
O Problema da Barreira Linguística
Um dos maiores problemas encontrados no Miliástraga Wonderland é a inconsistência na localização. Enquanto algumas interfaces e modos estão traduzidos para diversos idiomas, outros permanecem exclusivamente em chinês, criando uma experiência fragmentada e confusa.
Isso é particularmente problemático em um modo que se propõe a ser uma plataforma comunitária global. Se um criador chinês faz um minigame incrível, mas todas as instruções estão em chinês, a experiência fica completamente perdida para jogadores de outras regiões. É fundamental que a HoYoverse implemente ferramentas de tradução ou requisitos de localização para conteúdo criado pela comunidade.
A Interface: Presa em 2015
Não há como ignorar: a interface do Miliástraga Wonderland parece ter sido desenhada há uma década. O design minimalista, que remete ao Windows 8, não combina com a estética polida e moderna que esperamos de Genshin Impact.
Os menus são funcionais, mas sem qualquer elemento de charme ou personalidade. Tudo parece genérico demais, como se tivesse sido feito às pressas para cumprir um prazo. Para um jogo que se destaca tanto pela apresentação visual, essa discrepância é gritante.
O Veredito: Potencial Desperdiçado
O Miliástraga Wonderland chega ao Genshin Impact com uma proposta interessante: criar um espaço social onde a comunidade pode se expressar através de minigames personalizados. No papel, soa incrível. Na prática, pelo menos neste lançamento inicial, a execução deixa muito a desejar.
A personalização de personagens é básica demais para os padrões atuais. Os modos de jogo disponíveis variam entre o medíocre e o confuso, com raras exceções que conseguem ser genuinamente divertidas. O sistema de monetização é agressivo, cobrando valores altos por itens cosméticos que nem sequer são tão impressionantes assim.
O aspecto mais frustrante é perceber que a HoYoverse investiu 11GB de espaço em disco para entregar algo que parece apressado e incompleto. A base está lá – um sistema onde jogadores podem criar e compartilhar conteúdo tem enorme potencial. Mas sem ferramentas robustas de criação, sem uma curadoria adequada do conteúdo, e sem resolver questões básicas como a barreira linguística, o modo simplesmente não brilha como deveria.
Existe Esperança para o Futuro?
A resposta curta é sim, mas com ressalvas. O Miliástraga Wonderland está apenas em seus primeiros dias, e é razoável esperar que a HoYoverse implemente melhorias com base no feedback da comunidade. Com o tempo, podemos ver:
- Ferramentas de criação mais sofisticadas para os jogadores
- Melhor sistema de curadoria e destaque para os melhores minigames
- Resolução dos problemas de localização
- Mais opções de personalização de personagens
- Ajustes no sistema de monetização
No entanto, essas são apenas possibilidades. A empresa tem um histórico de ouvir sua comunidade, mas também de manter sistemas que geram receita mesmo quando são criticados. Só o tempo dirá se o Miliástraga Wonderland vai evoluir para algo verdadeiramente especial ou se permanecerá como um modo secundário que a maioria dos jogadores ignora após a novidade inicial passar.
Vale a Pena Investir Tempo e Dinheiro?
Para jogadores free-to-play: experimente o modo, complete as missões gratuitas para conseguir alguns Cristais de Réplica, mas não espere muito além disso. Os minigames podem proporcionar algumas risadas com amigos, mas não há conteúdo suficiente para justificar um investimento sério de tempo.
Para jogadores que gastam dinheiro: se você realmente ama Genshin Impact e quer apoiar o desenvolvimento de novos modos, o passe de batalha oferece o melhor custo-benefício. Evite gastar em Crononúcleos individuais, pois os preços são muito altos para o que você recebe em troca.
Para criadores de conteúdo: aqui pode haver algum valor. Se você gosta de experimentar e criar coisas novas, as ferramentas do Miliástraga Wonderland podem proporcionar material interessante para seus vídeos e streams, mesmo que o sistema seja limitado.
Considerações Finais
O Miliástraga Wonderland representa uma tentativa da HoYoverse de expandir Genshin Impact além de sua fórmula estabelecida. É uma aposta ousada em conteúdo gerado pela comunidade, algo que vimos funcionar espetacularmente bem em jogos como Roblox e Fortnite.
Infelizmente, neste estágio inicial, o modo não atinge seu potencial. É como se a HoYoverse olhou para esses exemplos de sucesso, mas pegou apenas a estrutura superficial sem entender o que realmente os faz funcionar. Falta polimento, falta profundidade nas ferramentas de criação, e principalmente, falta aquela centelha que transforma um modo adicional em algo que os jogadores querem realmente investir seu tempo.
Minha recomendação? Dê uma chance ao Miliástraga Wonderland, brinque com os modos disponíveis, complete as missões gratuitas. Mas não sinta que precisa gastar dinheiro imediatamente. Aguarde algumas semanas ou meses para ver como o modo evolui e se a comunidade realmente abraça a plataforma de criação. Se melhorias significativas forem implementadas e uma cena vibrante de criadores surgir, aí sim pode valer a pena um investimento maior.
Por enquanto, o Miliástraga Wonderland é uma curiosidade – algo para explorar casualmente entre suas sessões normais de Genshin Impact, mas não algo que vai revolucionar sua experiência com o jogo. E considerando os 11GB que ocupa no seu dispositivo, é difícil não sentir que esse espaço poderia ter sido melhor utilizado.