Nos últimos meses, uma nova animação baseada no universo de Undertale vem chamando a atenção da comunidade. “Outsider”, criada por Nezrini2011, uma artista da Tunísia, traz uma abordagem sombria e inquietante sobre um dos personagens mais enigmáticos do jogo: W.D. Gaster. A série, que já conta com um episódio piloto (zero) e o primeiro episódio oficial, reimagina o encontro com Gaster em Waterfall de uma forma que mistura suspense e elementos de terror.
Em tempos onde grande parte das animações de fãs de Undertale se concentram em batalhas épicas estilo “Dragon Ball”, é refrescante ver uma proposta que explora o lado mais obscuro e misterioso do universo criado por Toby Fox. Vamos analisar o que “Outsider” traz de interessante e como ela se diferencia de outras produções de fãs.
Uma Nova Visão do Enigmático Gaster
O episódio zero, com apenas dois minutos de duração, funciona como uma introdução ao conceito da série. Nele, acompanhamos Frisk caminhando por Waterfall com o espírito de Chara (retratado como masculino neste universo) flutuando ao seu lado. Ao encontrar a misteriosa porta que leva a Gaster, Frisk é confrontada com uma versão intimidadora do personagem, que se apresenta como um ser poderoso com planos de formar um exército.
O que chama atenção imediatamente é o tom macabro que a animação assume. Diferente da maioria das interpretações fan-made, onde Gaster é retratado como um cientista excêntrico ou uma entidade poderosa em estilo “anime de luta”, aqui ele ganha contornos verdadeiramente perturbadores. A cena final do episódio piloto, onde Gaster paira sobre Frisk com um olhar sinistro, estabelece perfeitamente o tom da série.
Desenvolvimento Interessante no Primeiro Episódio
O episódio um expande os conceitos apresentados no piloto e mostra as consequências do encontro com Gaster. Frisk acorda como se tivesse tido um pesadelo, mas logo percebe que Chara desapareceu e que algo está errado. Sentindo dores de cabeça intensas, ela descobre que sua mão direita se transformou, assumindo a aparência da mão de Gaster - um detalhe visual que simboliza perfeitamente a influência e o controle que o personagem está exercendo sobre ela.
A produção visual merece destaque especial. Quando a animação passa para as cenas de combate, há uma clara inspiração em Deltarune, com um fundo quadriculado que adiciona profundidade às cenas em preto e branco. Os momentos de terror são particularmente bem executados, com enquadramentos e composições que criariam excelentes wallpapers.
A abordagem de Sans neste universo também é interessante. Ele aparece com um design ligeiramente modificado e uma personalidade que, embora mantenha traços do Sans original, possui suas próprias peculiaridades. Isso sugere que “Outsider” não se trata apenas de uma linha temporal alternativa, mas sim de um universo alternativo completo com suas próprias regras.
Potencial e Limitações
Com apenas cerca de 10 minutos de conteúdo total entre os dois episódios disponíveis, é difícil fazer um julgamento definitivo sobre “Outsider”. A série ainda está em sua fase inicial, apresentando os personagens e estabelecendo seu mundo. Há elementos promissores, como a construção de suspense e a forma como as perguntas são parcialmente respondidas, criando mais interesse sem frustrar o espectador.
Tecnicamente, a animação apresenta alguns pontos que poderiam ser aprimorados, como a ausência de efeitos sonoros em momentos específicos (por exemplo, quando Sans se teleporta). Entretanto, o traço artístico é consistentemente impressionante, mostrando evolução até mesmo em comparação com trabalhos anteriores da criadora, como sua animação de Undertale Yellow.
Algo que não posso deixar de mencionar é como essa abordagem se distancia de outras interpretações populares de Gaster. Enquanto em “Epic Tale”, por exemplo, Gaster tem motivações semelhantes mas o foco está nas batalhas épicas, “Outsider” prioriza o terror psicológico e a invasão gradual que Gaster realiza sobre Frisk. É uma escolha que se alinha muito mais com as raízes de Undertale como um jogo que subverte expectativas.
Vale a Pena Acompanhar?
Como um entusiasta de MMORPGs que valoriza a profundidade e conexões significativas em jogos, encontro em “Outsider” elementos que remetem ao que torna Undertale especial: não são os gráficos ou efeitos visuais elaborados que fazem a experiência, mas sim a profundidade emocional e a capacidade de criar uma narrativa que ressoa com o jogador.
“Outsider” parece entender isso ao focar menos em batalhas espetaculares e mais na atmosfera psicológica e na corrupção gradual de Frisk. Essa abordagem promete uma história que pode explorar temas mais profundos do universo de Undertale, em vez de apenas replicar os combates em um estilo mais “anime”.
Por enquanto, a série demonstra potencial para se tornar uma das animações de fãs mais interessantes do universo de Undertale, especialmente para aqueles que apreciam os aspectos mais sombrios e psicológicos do jogo original. Se você é fã de Undertale e está procurando algo diferente das habituais animações focadas em combate, “Outsider” merece sua atenção - mesmo que ainda seja cedo para um veredito final sobre sua qualidade. +++