Em meio a diversas promessas de caça aos servidores privados de Ragnarok Online, uma pergunta permanece sem resposta concreta: por que a Gravity, detentora da propriedade intelectual do jogo, não toma medidas efetivas para encerrar essas operações “ilegais”? Desde o lançamento do Ragnarok Online Latan, a empresa tem feito ameaças, mas até o momento, pouco ou nada aconteceu no front de batalha contra os servidores não-oficiais.

A relação entre servidores oficiais e privados no universo de Ragnarok é complexa e fascinante, com uma história que vai muito além da simples dicotomia entre legal e ilegal. Hoje, mergulhamos nesse tema polêmico para entender por que essa coexistência pode ser mais benéfica do que prejudicial para todas as partes envolvidas.

A história da “caça às bruxas” que nunca aconteceu

Quando falamos sobre ações efetivas da Gravity contra servidores privados, apenas um caso se destaca ao longo dos anos: o fechamento do NovaRO. Este foi um dos maiores servidores privados em termos de visibilidade e número de jogadores, e seu fechamento causou um verdadeiro tremor na comunidade. Um servidor canadense que sofreu processo judicial direto da Gravity e acabou encerrando suas operações.

O pânico se espalhou rapidamente após esse episódio. O TalonRO, outro grande servidor da época, decidiu fechar preventivamente por medo de ser o próximo alvo. Outros adotaram medidas de precaução, como o Shining Moon, que removeu seu site oficial e passou a operar apenas via Discord, tornando-se quase “clandestino”.

Em 2023, representantes do BRO (servidor brasileiro oficial) chegaram a fazer pronunciamentos ameaçadores durante o Cafra News, alertando que os servidores privados brasileiros seriam os próximos a cair. E mais recentemente, com o lançamento do Latan, a Gravity voltou a martelar essa tecla.

Mas a realidade tem se mostrado bem diferente das ameaças. Quase nenhum servidor privado sofreu qualquer tipo de sanção direta. O que nos leva a questionar: seria apenas incompetência da Gravity ou existe algo mais estratégico por trás dessa aparente tolerância?

Por que os servidores privados são necessários para o ecossistema de Ragnarok

Existe um argumento poderoso que raramente é mencionado nas discussões sobre a legalidade dos servidores privados: a preservação histórica de Ragnarok Online. Esses servidores ajudam a manter viva a essência, as histórias e os diferentes estilos de jogo que fizeram Ragnarok ser tão especial.

Uma pergunta simples mas reveladora: quantos jogadores ainda consumiriam qualquer conteúdo relacionado a Ragnarok Online se não existissem os servidores privados? A resposta provavelmente mostraria que grande parte da comunidade atual estaria dispersa em outros MMOs.

Descrição da imagem

Diferentemente de outros jogos como World of Warcraft, onde os servidores oficiais mantêm a maior base de jogadores independentemente da existência de privados, no universo de Ragnarok vemos diversos servidores não-oficiais com populações que superam os servidores oficiais. E isso não acontece apenas por questões de custo ou acessibilidade.

Um dos principais motivos é que Ragnarok Online, por sua natureza flexível, permite diferentes estilos de jogo. Muitos jogadores não abandonam o servidor oficial por acharem a Gravity incompetente, mas simplesmente porque o ritmo, as taxas e o estilo de progressão do servidor oficial não se alinham com suas preferências de jogo.

Agilidade e resposta à comunidade: o diferencial dos privados

A velocidade com que os servidores privados respondem a problemas e implementam mudanças solicitadas pela comunidade é impressionante quando comparada aos processos burocráticos dos servidores oficiais. Um exemplo claro disso foi a implementação de um mapa customizado em um servidor privado, onde dezenas de bugs foram reportados e corrigidos em uma única madrugada.

Essa agilidade não é apenas uma questão de competência técnica, mas de sobrevivência. Enquanto os servidores oficiais podem sobreviver com base nos “whales” (jogadores que gastam grandes quantias), os servidores privados dependem muito mais da satisfação geral da comunidade. Se 100 jogadores decidem parar de gastar dinheiro em um servidor oficial, mas um único “whale” investe o equivalente a 101 pessoas, o boicote não surte efeito. Essa matemática não funciona nos servidores privados.

Servidores privados de longa data geralmente indicam uma gestão que ouve e atende às demandas da comunidade. É por isso que muitos jogadores confiam mais em servidores que estão no ar há anos – eles provaram sua dedicação ao jogo e aos jogadores.

A relação simbiótica que beneficia a todos

Contrariando o senso comum, a existência dos servidores privados pode ser extremamente benéfica para a própria Gravity. Esses servidores mantêm o interesse na propriedade intelectual de Ragnarok Online viva, servindo como divulgação constante e gratuita.

Quando a Gravity anuncia um novo produto, como o recente Ragnarok 3 (que terá versão para PC, não apenas mobile), grande parte dos jogadores de servidores privados demonstra interesse em conhecer a novidade. Isso significa que a empresa consegue alcançar um público que, de outra forma, já teria abandonado completamente sua marca.

Se existissem apenas servidores oficiais, muitos jogadores frustrados com a gestão da Gravity provavelmente deixariam de se interessar por qualquer produto relacionado a Ragnarok. Os servidores privados permitem que esses jogadores continuem amando o jogo, mesmo quando estão decepcionados com a empresa detentora dos direitos.

Nessa relação curiosa, todos parecem ganhar: os jogadores têm opções que se adequam aos seus estilos de jogo preferidos, os servidores privados conseguem existir e monetizar, e a Gravity mantém sua propriedade intelectual relevante para um público muito maior do que conseguiria sozinha.

A menos que um servidor privado específico represente uma ameaça direta aos negócios da Gravity, é improvável que vejamos uma verdadeira cruzada contra esses servidores. O custo das ações judiciais e a perda de visibilidade provavelmente superam os possíveis benefícios financeiros de tal empreitada.

No final, essa coexistência, ainda que tensa e juridicamente ambígua, parece ser o melhor cenário para todos os apaixonados pelo universo de Rune-Midgard. E você, o que pensa sobre essa relação entre servidores oficiais e privados? O equilíbrio atual é saudável para o futuro de Ragnarok Online?

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