A Cipsoft surpreendeu a comunidade de Tibia com uma mudança controversa que está dando o que falar. A desenvolvedora implementou um novo sistema que permite aos jogadores lançarem magias direcionais automaticamente para o alvo selecionado, sem precisar virar o personagem manualmente. Esta funcionalidade, que afeta principalmente Sorcerers e Druids, tem gerado debates acalorados sobre a linha tênue entre qualidade de vida e simplificação excessiva do gameplay.

Enquanto alguns comemoram o fim das lesões por esforço repetitivo, outros lamentam mais um passo na direção de um Tibia que exige cada vez menos habilidade manual dos seus jogadores. Será que estamos testemunhando a gradual erosão da alma dos MMORPGs clássicos em nome da conveniência?

A automatização está matando a essência dos MMORPGs?

Não é novidade que os MMORPGs modernos vêm caminhando a passos largos para sistemas cada vez mais automatizados. Tibia, um jogo que sempre se orgulhou de sua curva de aprendizado íngreme e mecânicas desafiadoras, parece estar cedendo aos poucos à tendência do mercado.

Esta nova função permite que jogadores apenas selecionem o alvo e a magia seja lançada automaticamente na direção correta. Como mostrado em vídeos, nem é necessário mais virar o personagem - a wave sai direcionada automaticamente para a criatura escolhida. Isso facilita enormemente o kiting (técnica de manter distância de monstros enquanto os ataca) e reduz consideravelmente a habilidade necessária para jogar classes de magia em alto nível.

Tibia implementa mira automática

O problema não é a mudança em si, mas o que ela representa no contexto maior. Cada vez que um MMORPG remove uma camada de complexidade manual, ele também remove uma oportunidade de jogadores se destacarem por sua habilidade real. O gap entre um mago novato e um veterano acaba de diminuir drasticamente.

A conexão entre jogadores está em risco

O que sempre fez Tibia especial, assim como outros MMORPGs clássicos como Runescape, foi a comunidade construída em torno das dificuldades compartilhadas. Aprender a lançar magias enquanto corre, dominar as rotações perfeitas, e ensinar isso a outros jogadores - essas interações criavam vínculos reais entre as pessoas.

Lembro do tempo em que passava horas em Lamentosa (meu MMO de texto favorito) discutindo táticas para derrotar bosses com meu clã. A dificuldade das mecânicas nos unia, forçava comunicação real. Não eram sistemas automáticos que faziam o trabalho por nós.

Quando um jogo remove essas barreiras de habilidade, ele inadvertidamente remove também os pontos de contato que forçam jogadores a interagir e formar comunidades reais. Um MMORPG não precisa de gráficos ultra realistas ou de orçamentos milionários - precisa de mecânicas que incentivem conexões genuínas.

Entre conveniência e desafio: onde está o equilíbrio?

A Cipsoft argumentaria que esta mudança é apenas “qualidade de vida” - reduz o desgaste físico de precisar virar manualmente o personagem repetidamente, algo que causava LER (Lesão por Esforço Repetitivo) em alguns jogadores.

Mas a questão não é tão simples. Enquanto jogadores gastam fortunas para manter seus personagens (um entrevistado no vídeo mencionou gastar cerca de 4 mil coins a cada 15 dias), o jogo continua removendo elementos que justificam esse investimento: a sensação de maestria.

Quando você automatiza as magias direcionais, você nivela o campo de jogo. Suddenmente, aquele mago que passou anos aperfeiçoando sua técnica tem pouca vantagem sobre o novato que acabou de chegar. Isso é justo? Isso honra o investimento de tempo e dinheiro dos veteranos?

O surgimento de alternativas interessantes

É curioso notar que, enquanto o Tibia oficial caminha para mais automação, servidores privados como o mencionado “Tibia Idol” vêm explorando uma abordagem diferente. Este servidor aparentemente permite jogar tanto pelo client tradicional quanto pelo navegador ou celular, e até mesmo automatizar completamente a caça por até 8 horas.

A diferença? Eles são transparentes sobre o que estão fazendo. Não é uma “melhoria de qualidade de vida” disfarçada - é uma proposta diferente de jogo para um público específico que tem menos tempo disponível.

O futuro dos MMORPGs está em risco?

Talvez eu esteja sendo dramático, mas cada vez que vejo um MMORPG clássico cedendo à tentação de simplificar suas mecânicas mais fundamentais, sinto que estamos nos afastando da essência do que tornou esses jogos especiais.

Não são os gráficos, não são as quests repetitivas, não são os eventos sazonais. O que torna um MMORPG especial são as conexões genuínas formadas quando jogadores precisam colaborar para superar desafios reais, que exigem habilidade real.

Se continuarmos nesse caminho de automatizar tudo em nome da “qualidade de vida”, eventualmente teremos jogos onde nossa presença é quase opcional. E que graça tem nisso?

E você, o que acha dessa mudança no Tibia? A automatização das magias direcionais é um passo na direção certa ou mais um nail no caixão da habilidade manual nos MMORPGs? Deixe seu comentário!

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